trompa ausente
o estarmos-juntos se traduz em maior distância
do que os dias que nos separam
embora passem calados
por cômodos inabitados
senão pela possibilidade do vir-ser sussurros
e por selos abertos através das paredes
nesta cidade sou apenas um nome
não homem, nem palavra ou patrono
moro de favor numa casa em construção
não posso ser teu sem ter de ti
o que outros tomaram como de direito
serei o bandido a te fazer vislumbrar o ouro
e saquearei de volta o convívio roubado
pela sagacidade de mocinhos empreiteiros
contra cujos testemunhos nada poderia
pois bandidos têm honra
que nos separem, então
eles, que mal sabem o significado de uma marca
o furor de uma identidade nulificada
que, no entanto, não precisa mendigar por farelos assertivos
como foi de costume na farsa primeira
pois no outro extremo da distância
há de ter sempre quem espere pelos brados
e paredes não mais terão razão de ser
(poema escrito de 2004 pra 2005, quando minha filha tinha meses ainda, presente no meu primeiro livro, dos versos fandangos)