Minha janela dá pra Igreja da Consolação e os sinais de fumaça dos skatistas e parlapatões disputando a TAZ rooseveltiana com os canas e beiçolas. Dá pros helicópteros sobrevoando a Praça da República onde estudantes e black blocs são pisoteados por porcos do bico amarelo. Dá pros titutos do Copan, titutos da Baixo Augusta, titutos do Mackenzie. Dá pros fantasmas do Antigo Hilton. Pro escuribreu de um túnel sem saída numa estação eternamente em obras. Minha janela já deu pros zumbis da Sé ou da Paim, mas isso não é coisa que um pai exponha assim em quinze linhas. Já deu pra moça que nunca olhava pra cima, o topete de chifres atrapalhando a vista. Já deu pra bleomicina a conta-gotas, e mijava o sangue de todos que aos poucos iam morrendo em mim. Pilhas e pilhas acadêmicas, farmacológicas, o marginal virou rapazinho ainda que trancafiado do outro lado da janela. Que hoje dá pro batuque de Hamelin hipnotizando a resistência tremembé Minhocão abaixo e rumo às muradas dos Campos Elíseos. Pro mesmo céu cinza de sempre e próprio da mistura de todos os credos – picolé (ou sorvete) de Tietê.
fui convidado pelo Livre Opinião a escrever um depoimento em homenagem a são paulo ao lado de um monte de gente bacanuda. da minha parte, saiu isso.