Livros

“’Eu posso mentir, se vocês preferirem.’ Eu adoraria que ele tivesse feito isso, mas o que temos aqui é ficção – a mais pura verdade. Os nove contos estão aqui mesmo. Essa gente cruel e louca está aqui mesmo. Eu estou aqui mesmo. Nas palavras cortantes, nas cenas desoladas, no humor assustador e numa vontade louca de gritar qualquer coisa. Tudo bem, não faremos isso porque vivemos na realidade e a ficção é outro assunto. Aqui não há mentira que nos salve. O autor te sequestra e é impossível sair. Ele faz previsões nefastas num conto escrito em 2016 e aqui estão elas, concretizadas, brilhando em 2021. Como se ele nos dissesse: olha, vai dar tudo errado. E deu. A gente sabe. Até a morte, que sempre foi um grande acontecimento na vida de uma pessoa, virou um compromisso de meio da tarde. Uma vergonha. ‘Acabou a solidariedade.’ O pior é que não é só a taça do mundo, não, tio, a culpa também é nossa. E ela adora habitar as vítimas, porque a culpa não sabe exatamente onde deve ficar. Então ela fica onde dá, onde deixam, onde a colocam. Todo mundo no mesmo incêndio e o desespero completamente à vontade, precisa ver. Era o caso de ficar quieto. Não escrever este livro, não mexer nesse buraco sem precedentes que o autor resolveu cavucar. Mas isso seria um crime, porque não teríamos como viver o domínio absurdo da linguagem que aqui se apresenta. Onde todas as palavras destilam o horror. Um espetáculo da literatura. Enfim alguém resolveu escrever a verdade. E esse alguém se chama Caco Ishak.” (Fernanda D’Umbra, 2021) — Ilustração: Kael Kasabian.

cowboy_capa“O alter egocêntrico e autoboicotador serial Carlo Kaddish de Caco Ishak é neto dos errantes beats mas erra sempre que tenta sair do lugar, uma Belém pós-tudo que bem poderia ser Xangai e onde o nervo da contemporaneidade lateja sem trégua. Façanha de linguagem estetizada que às vezes sugere um enxerto absurdo de Riobaldo com Rick Deckard, ‘Eu, cowboy’ atira para matar. Entra por um ouvido e duvido que saia pelo outro tão cedo.” (Sérgio Rodrigues, 2015)

“Aos 27, ou você se entrega e vira epitáfio imortal em Père Lachaise ou junta seus amigos num Challenger e segue pro México. O alter ego Ginsbergiano de Caco Ishak fica entre as duas opções, escrevendo um livro pros que andam errado, pros que sabem que a dois é impossível. E por mais que tente negar, não disfarça, ‘não bloqueia os fatos’. Escreve na velocidade das turbinadas diligências da Wells Fargo, como se ‘fracasso’ fosse uma substância fatal e inevitável e, ao mesmo tempo, o antídoto pro mal (?) que aflige aqueles que acordam todos os dias tentando ‘odiar um pouco menos a humanidade’.” (Mário Bortolotto, 2015) — Ilustração: Guilherme Pilla. Aqui, orelha de Marcelino Freire.

npdetcapaNão Precisa Dizer Eu Também (2013) é a segunda coletânea de poesia do escritor e tradutor literário goiano (radicado em Belém) Caco Ishak. A obra reúne 36 textos escritos entre 2007 e 2010 (e uma ilustração assinada por Fábio Vermelho). Segundo o escritor paulista Marcelo Montenegro, “ao abrir o livro, a sensação é a de estar removendo uma espécie de curativo. De um circo-ferida no qual – e no fim das contas – o tempo é – ao menos, deveria ser – o maior acrobata de todos”. Não Precisa Dizer Eu Também seria, no fundo, e ainda de acordo com Montenegro, um livro de amor. Ishak, porém, diz não precisar do amor. Mas lê Susan Miller. Talvez, não acredite em nenhum dos dois. Nem duvide. Um pé na estrada vintage da iconoclastia cyberpop, outro na paternidade.

mp“Aqui, Leitor, um livro que alicerça uma única história, sugerindo a desistência para, traiçoeiramente, afirmar a paixão pela vida, apesar de reconhecer como verdadeiro par da existência a fatalidade. Aqui, há palavras febris programando um niilismo-barroco e, portanto, o paradoxo: trajetos na madrugada, minados de incerteza.  Não se engane com a simplicidade ou o falso-juvenil da algumas passagens. Há uma concisão propositalmente dispensada, um mergulho sem ar, quase sem luz, em busca da beleza e de um sentido que diminua o desconforto da rotina, a resignação pessoal diante do cômodo e dos mitos.  É isso, um livro que se propõe à extinção do mito da resignação. Quem conhece o Caco Ishak sabe muito bem do que estou falando. Nesse autor, uma singularidade: o abandono como ponta de sonho, como necessário em meio ao caos para que possamos lembrar que no fundo, no fundo, ainda somos humanos.” (Paulo Scott, 2006) — Ilustração: Leonardo Menescal. PDF

Antologias:

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Com organização de Marcelo Damaso, o livro Amores em quarentena é um grande abraço virtual de dez autores e autoras, e um artista visual, que criaram histórias de amor, solidão, compaixão, tolerância, perda, farra e medo, mas, sobretudo, esperança. São eles: Ana Rüsche, André Takeda, Caco Ishak, Edyr Augusto, Estrela Leminski, Marcelo Damaso, Patrícia Rameiro, Rochele Bagatini, Toni Moraes e Vladimir Cunha. A capa é do artista Rodrigo Cantalício. Trata-se de uma ação colaborativa que nasceu com o objetivo de levar leitura, entretenimento e diversão para as pessoas durante a quarentena, em suas casas. O download é gratuito.

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Organizado por Kátia Gerlach, “neste livro reconhecemos a América Latina em todas as histórias contadas, como se cada país fosse formado por um mosaico de pequenos desenhos da América Latina, sempre a mesma, sempre distinta. As histórias narradas diferem, mas se aproximam em estilos, fragmentos que, unidos, traçam um perfil apropriado para ressignificar nossa história e nossas preocupações, cada vez mais semelhantes. Um livro que reúne dentro dos contos uma quase enciclopédia de citações literárias, musicais, políticas, históricas e de artes visuais. O mosaico criado contempla crenças, costumes, sensualidade, fantasia beirando o real maravilhoso, e a realidade quase paradisíaca corrompida pela presença da serpente, do mal.” (Lucia Bettencourt)

Ahiperconexoes coletânea “HIPERCONEXÕES: realidade expandida” volume 3, organizada por Luiz Bras (Paisagem Personas), é uma super-reunião de poemas sobre o pós-humano, dividida em dois livros: “Sangue & titânio” e “Carbono & silício”.

“O metamaterial o grafeno o carro sem motorista / a casa automatizada a primeira expedição a Marte / as nano-sondas robóticas de Yuri Milner / o upload mental de Dmitry Itskov / a Fundação Ciborgue de Neil Harbisson e Moon Ribas / o embrião artificial criado pelos pesquisadores / da Universidade de Cambridge / tudo isso é assunto de publicações científicas / não apenas de mangás e animês / O início do amanhã é agora / O futuro já começou e os poemas aqui reunidos / tratam das maravilhas e tragédias que estão / nos envolvendo nos abraçando cada vez mais forte / Poemas que podem ser lidos como se fossem um só / Uma odisseia coletiva”

captura-de-tela-2016-12-12-acc80s-22-17-41Com seleção e organização de Francisco José Viegas, esta é a primeira antologia publicada em Portugal da novíssima poesia brasileira, um desafio a que o leitor atravesse o Atlântico em busca de outros versos escritos em português. É mar alteroso e profundo para a poesia — que cada vez tem mais dificuldade em sair de circuitos reduzidos e fechados. O poema convive estreitamente com a solidão dos seus criadores. Num meio tão atomizado e individualizado, em que cada poeta cria o seu próprio universo e linguagem, desenvolver um exercício de arrumação, estética ou até geracional, seria um ato de profunda arrogância e uma inevitável traição à diversidade de vozes que se apresenta neste volume. Uma mostra de quase duas dezenas de poetas brasileiros com obra publicada exclusivamente no século XXI.

capa_ficcionais_vol2-1Publicada pela Cepe Editora e organizada por Schneider Carpeggiani, a coletânea reúne 30 ensaios de escritores falando do processo de criação de suas obras. Angélica Freitas, Micheliny Verunschk, Ana Paula Maia, Andrea del Fuego, Luci Collin, Débora Ferraz, Maria Valéria Rezende, Carola Saavedra, Paula Fábrio, Sérgio Sant’anna, João Almino, Ronaldo Correia de Brito, Marcelino Freire, Estevão Azevedo, Tiago Novaes, Bruno Liberal, Silviano Santiago, Everardo Norões, Raimundo Carrero, José Luiz Passos, Caco Ishak, Antonio Geraldo Figueiredo Ferreira, Julian Fúks, Antonio Xerxenesky, Antonio Carlos Viana, João Paulo Parísio, Luis Henrique Pellanda, Eucanaã Ferraz, Adelaide Ivánova e Sidney Rocha.

g0lpe_rodrigo_sommerO Golpe de Estado no Brasil em pleno Séc. XXI inspirou 120 escritores e artistas, grupo este formado por Ana Rüsche, Carla Kinzo, Lilian Aquino e Stefanni Marion, a realizar Golpe: antologia-manifesto. Trecho da carta à Camarada Don’Otoni: “Até quando vamos pensar que a direita é burra? Não é. Há quem confunda política com intelligenza. Há quem não tenha entendido nada sobre o Bessias, jogada estratégica de gênio. Não à toa, os cem anos de reclusão. Questão da mais pura lógica analítica. Dilma sabia estar sendo gravada. Não se trata de apelar pro método hipotético-dedutivo, ao contrário: maior oportunidade pro direito enfim largar mão de vez do positivismo.” Aqui, download gratuito.

npdetcapa“Tom Jobim é um oceano. Suas águas já banharam o cinema, o teatro, a dança e as artes plásticas, sem falar em como parecem nos inundar quando ouvimos sua música — ela nos toma corporalmente, abole a paisagem, apossa-se de nossos sentidos. Faltava a Tom inundar a literatura. Não falta mais. Os 20 contos de Vou te contar, inspirados em suas canções, revertem sua arte à ferramenta que ele respeitava tanto quanto as notas musicais: a palavra.” Organização de Celina Portocarrero. (Ruy Castro, 2014)

npdetcapa“Tudo o que não foi” (2014) é uma coletânea de contos emocionantes e sensíveis de jovens e experientes escritores: Ana Miranda, Bernardo Ajzenberg, Bernardo Kucinski, Bobby Baq, Caco Ishak, Carlos Eduardo de Magalhães, Deborah Kietzmann Goldemberg (organizadora), Douglas Diegues, Ignácio de Loyola Brandão, Ítalo Ogliari, Luiz Roberto Guedes, Marcelino Freire, Paula Fábrio, Rubiane Maia e Wellington de Melo. Foi concebida com o objetivo de ampliar a reflexão e o discurso acerca dos acidentes de trânsito que ocorrem no Brasil, pois talvez seja através das artes, da ficção, da dramaturgia, que as pessoas consigam melhor enxergar e perceber o que apenas a razão não tem sido capaz de fazer — o quanto a vida do outro é muito mais importante do que qualquer gole de imprudência e irresponsabilidade.