tive a honra de escrever a orelha de corpo opaco, livraço de poesia de flávio nassar.
No mínimo, caros leitores, um livro necessário. São vários os corpos que formam este Corpo Opaco de Flávio Nassar. Suas mulheres dão o contraponto ao arroche de bagos da conjetura nacional: possível gênesis – “não há formigas”, Leocádia, “só cactos intratáveis”. Nassar é um ladies’ man. Verbaliza-se no que tem de mais honesto: a outra. Odes; disputa nenhuma pelo protagonismo. “Sê inútil”, um brinde e ciao.
Passemos ao outro. Ao símio que “não trai símio”. Ao homo que trai. Ao “sumano homem [sábio]”. Ao corpo opaco em si, “roto usado gasto”, ao corpo “segregado”, retratos da pátria, patriotas sem vozes, de-civilizados, aos “destrossos”. Aqui, “nenhuma nova virtude, nenhum novo pecado”. O amor de ratos, cupins, mendigos, fumaça, poeira. “É [sempre] bom lembrar”, afinal, “podemos esquecer”. O amor de um arquiteto pela cidade que idealizou, agora “um discurso fanho”.
Dono (ou tutor) de uma voz tão particularmente singular, que destoa da regionalidade de boutique em voga, quase vinte anos após seu primeiro e único volume de poesia, ARMAGEDON ou a Ressurreição do Engole Cobra (iguaria à margem das prateleiras e ironicamente carregada de um pan-regionalismo supra-linguístico), Nassar enfim dá as caras [e a tapa] para reivindicar o lugar deste corpo opaco ao sol esturricante da poesia brasileira. Ou para que reivindiquem por ele. Nassar, bom lembrar, não acredita em Yoko nem em si. O lugar, todavia, é certo, está guardado.