prometi não escrever uma linha
palavra que fosse sobre a gente
que este seja apenas o primeiro
posto que passa o que não acaba
então, que dure
até um novo poema embrulhado
se acabou numa traição
(autotraição, autoboicote)
recomeça-se tudo outra vez
agora, sim, eu sei
nada mais é necessário
(das expectativas que tive até hoje
prefiro a de quem já não se engana
e bota a ansiedade pra dormir)
a dor de memorandos e etiquetas e
esgrimas e contas pagas e teu coração
numa forquilha que eu julgava nossa
essa dor não vale a
tranquilidade de uma página
virada atrás da outra e a seguinte
não vale cada ponto final dum parágrafo
sou o que já não quer mais representar
o anti-herói na orelha de best-seller que seja
muito menos duma série na tevê
então, que dure
e durma e acorde sem
sonhos ou pontas de facas senão
entre o dormir e o acordar
simplesmente carregando
o abandono cotidiano nas costas
no colo
então, que dure
como um poema em versos soltos
na cumplicidade de sempre reescritos